A Morte
- Mateus Reggiani
- 25 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Ele então se encontrou frente a frente com a Morte. Sem saber o que fazer, o que dizer, tentou argumentar com a figura que agora tendia a se aproximar dele.
– Quem é você?...Ou melhor o quê...aonde? Como? Saía daqui...meu Deus...
O vulto encapuzado portava uma foice, a qual possuía um longo cabo de madeira já meio gasto e uma parte metálica enferrujada como se já a tivesse usado por diversas vezes. Sem qualquer sinal de piedade a Morte continua sua trajetória retilínea em direção a Pedro. Desesperado, já sem muita imaginação do que fazer em uma situação daquelas, ele tentou pensar em algo que já havia ocorrido com ele. Algo do seu passado que o tirasse dali.
A primeira coisa que veio em sua mente sobre fugas era as férias na casa da Tia Gertrudes, nas quais ele vivia escapando daqueles doces, considerados por ele, horrorosos. Sempre que ela aparecia oferecendo-os (obrigando comê-los) ele sempre corria, pulava a janela que dava no galinheiro e acabava subindo na jabuticabeira que havia na fazenda. Mas naquela situação, não havia janelas, galinheiros e muito menos jabuticabeiras.
Então tentou abordar algo mais concreto, algo de que ele fugia enquanto mais velho. Contas? Ex-namoradas? Sogras? Chefes? Nada disso se comparava à Morte. Algo tão sombrio, frio e calculista. Tentou então pensar nas coisas boas que viveu, para pelo menos sentir em seu último suspiro que valeu a pena. Lembrou então das namoradas, das travessuras quando criança, do primeiro beijo, da sua primeira vez. Esta última ele recordou com um sorriso, pois nem bem ele sabia como considerar sua primeira vez. Ele lá no carro mais dois amigos, iam experimentar pela primeira vez o sabor de ter uma mulher em uma cama, mesmo que paga.
Para Pedro a ansiedade pulsava em suas veias, suava frio, não sabia como agir ao ver aquela mulher nua em sua frente esperando que ele agisse. Bom, um tempo depois ele ainda não havia conseguido agir, se é que me entendem. Quando, finalmente, agiu além de não ter conseguido chegar ao finalmente, não achou nada de mais, não sentiu uma mulher naquela hora, foi frio, algo errôneo. Descartou essa vez, logo sua mente buscou a segunda, que agora considerava a primeira. Uma balada, primeira vez que bebia e com os mesmos dois amigos. Foram então uísque, cervejas, tequila, vodka e caipirinha, já não relacionava mais nada entre razão e loucura. Mas se lembrava bem daquele cantinho com uma menina, deflorou-a ali mesmo. Pena o outro dia se lembrar tão pouco do que ocorrera e ter ficado com um peso na consciência pelo fato de não usar camisinha (não façam isso em casa). Tentou descartar mais uma vez, por não se lembrar. Então recorreu-se a terceira, em casa, na sua cama, com a menina que amava. Estava pronto a considerar, não fosse sua irmã ter ligado e atrapalhado tudo que mal havia começado. Desistiu então.
Era engraçado estar pensando naquilo aquela hora. Teve outros pensamentos, escola, amigos, parentes mas nada o fazia saber o que dizer naquele momento.
– Olha, eu não estou pronto para morrer....
A Morte nunca pareceu tão perto, aquele sopro gelado, que saia do cadáver vivo do vulto que os homens mais temem, parecia lhe tocar a face. Realmente era verdade o que diziam sua vida passava inteira em sua frente. Se arrependeu dos erros, se orgulhou dos acertos mas havia algo que o magoava, fazia mais de dez anos que não falava com seu pai. Uma briga boba mas com grandes ressentimentos.
– Por favor, me deixe viver, preciso me desculpar com meu pai.
A Morte então levantou sua foice, em um rápido e fatal golpe...
– Pedro....Pedro...acorda Pedro, "ocê tá suanu" Pedro – disse Maria, a empregada.
Pedro então em um golpe rápido levantou, desnorteado e arrependido. Sem mais explicações vestiu-se com qualquer roupa e saiu correndo de seu apartamento. Maria que nada entendeu ainda tentou obter explicações.
– Pedro, "ondé que cê vai minino"...
Pulava de dois em dois degraus e ia descendo do décimo até o térreo, trajeto que fez em menos de dois minutos. Disparou-se então para casa de seu pai, nunca estivera tão certo do que queria, queria se desculpar. Então ao atravessar a avenida sem olhar para nenhum lugar que não fosse em frente. Pedro entrou na frente de um caminhão. Um som estrondoso de buzina chamou sua atenção.
Ele então se encontrou frente a frente com a Morte. Sem saber o que fazer, o que dizer...
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