"Estou me guardando para quando o Carnaval chegar...
- Mateus Reggiani
- 23 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Enquanto suas mãos desciam carinhosa e calorosamente por entre o corpo feminino, Paulo sentia que havia algo de errado. Mas como? Seu tato lhe dizia que não haviam estrias, celulite ou imperfeições. Muito ao contrário, possuía uma das mais belas feições vistas por reles mortais. Seios fartos, barriga torneada, beiços carnudos e glúteos estonteantes. Mesmo assim algo lhe dizia para agir com a mais extrema perícia. Loira dos olhos azuis em brasa, beijo envolvente e ardente, palavras sujas ao pé do ouvido e o mais importante, sem sutiã.
Agora suas pretensões falavam mais alto que a razão. Já a beijava loucamente, abriu a porta do quarto como se já conhecesse o quarto dela, mesmo que fosse a sua primeira vez nele. Deitou-a na cama, arrancou-lhe a blusa e a beijou novamente. Então como se em um relance de milésimos de segundo, surgiu em sua cabeça a palavra carnaval. Não podia negar que era carnaval, ouvia a multidão cantarolando marchinhas, as buzinas, o trio elétrico e os tantos papéis que cintilavam no ar lá fora. Até a recorrida música de Chico pipocou-o à mente, "Estou me guardando para quando o carnaval chegar...”
As suspeitas de que havia algo de diferente com o ser que aconchegava-se abaixo dele aumentaram. Só havia um jeito de descobrir se era uma mulher realmente. Sua mão agora descia mais ligeira e contornava o abdômen da suspeita. Contudo, algo prendeu sua mão antes de chegar. Era ela o segurando e como se soletrasse letra por letra, o disse:
- Jura que me ama.
Ele hesitou. Não podia jurar que a amava, primeiro por não amar e segundo por não saber nada da vida dela.
- Juramentos são eternos, não se jura em uma noite. – escapou de rompante.
Bem pensado, ele rapidamente disse a si mesmo.
- Nem que seja por uma noite, jura que me ama.
As mãos dela o apertavam mais forte, impedindo totalmente a passagem para o prêmio final.
- Quer mesmo ouvir?
- Muito.
Pensativo, caminhou com sua pupila por todo o quarto. Resolveu arriscar.
- Juro.
Como naqueles letreiros digitais, "Siga em frente e boa viagem", carinhosamente tocou e afagou a mão de Paulo abaixo. Fisicamente sua mão continuou a descer por inércia até chegar onde queria. Gozou tanto de saber que ela era do sexo oposto que quase soltou um grito de eureka. Foi assim que se amaram por quase uma noite inteira de carnaval. Os gritos e o trio elétrico já não pareciam tão audivelmente altos, agora sua pupila é quem cintilava brilhante por entre a córnea. Depois de ambos contentemente saciados, Paulo disse:
- Foi magnífico. E pensar que ainda pude duvidar que havia algo de estranho ou errado.
- Como assim?
- Fiquei meio inseguro de continuar com você, algo me dizia que não deveria mas por sorte não ouvi.
- Concordo com você, ia perder uma noite e tanto.
- Se ia. Tem algum cigarro?
Ela então o estendeu um maço e ele espertamente saltou um cigarro, já o emendando à boca. Após acender o cigarro, ele ajeitou-se na cama e começou a deleitar-se com o momento. Mas algo o chamou a atenção, um barulho de porta meio ao longe se misturou com a euforia lá fora. Sem muitas preocupações, Paulo perguntou:
- Ouviu isso?
Barulho de passos apareceram e tornavam-se mais frequentes.
- Relaxa, é apenas o meu marido.
- MARIDO? – bradou Paulo pasmo – Você não me disse que tinha um marido!
Então uma voz grossa rompeu o quarto e chegou aos tímpanos de Paulo.
- Nem disse que ele além de marido, é delegado.
A partir de então Paulo aprendeu a nunca mais duvidar de suas intuições.
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